terça-feira, 23 de julho de 2013

Tereza 2006

Tereza pegou o mesmo ônibus ás 7h da manhã , para levar o neto na escola , um menino gordinho uniformizado e com apenas 5 anos. Matheus , ia contando sobre seus sonhos daquela noite, e a avó toda desarrumada, pois , de novo, tinha esquecido de colocar o relógio para desperta, era já a quarta vez que aquilo acontecia em uma semana. Tereza estava apenas com o rosto lavado e a roupa era a mesma da noite passada "Nem parece pijama" pensou enquanto levantava assustada e correndo para o quarto do neto.
O menino continuava contando seus sonhos , e ela fingia que escutava apenas balançado a cabeça quando ele perguntava alguma coisa. Estava preocupada com aquele maldito trânsito , que estava mais parado do que a vida dela. Já estavam descendo , quando Matheus perguntava o porque que não levará lanche esses últimos dias. Tereza correndo contra o tempo , puxando o neto pelo braço , chegou na escola quando já estavam fechando o portão . O porteiro ,acostumado com aqueles atrasos , esperou o menino entrar e fechou o portão.
Ela ficou ali parada , com a respiração ofegante , com seus chinelos velhos e cabelos bagunçados, "Não pude nem dar um beijo de despedida" , pensou enquanto dava o sinal para o ônibus.
Parecia que todos á olhavam , enquanto sentava no banco preferencial. " Não sei porque ficam observando uma velha descabelada", resmungava mentalmente , encarando cada olhar.
Faltavam dois pontos para sua parada , quando Tereza apertou aquele botão laranja para descer. " Já que meu médico pediu que eu caminhar um pouco , acho que essa distância ajudará meu pobre coração", pensava enquanto descia os degraus do ônibus. Mas o motorista estava com pressa, tinha que terminar seu trabalho e estacionar no pátio ás 8:30 e já eram 8:20 da manhã . Acelerou , antes que Tereza estivesse totalmente com os pés na calçada.
Tereza caiu de joelhos e  ralou todas as partes descobertas de seu corpo "Por isso eu não faço caminhada" , pensou quando viu seu sangue no chão. Uma mão velha segurou sua cintura e a ajudou ficar de pé.
Era um senhor , talvez tivesse 77 anos , usava uma boina xadrez verde, um óculos com formato antigo ,tinha catarata aguçadas e também estava de chinelo. Mas o que o velho não pode perceber , é que aquela senhora caída aos seus pés , ainda carregava os mesmos olhares apaixonados que o encarava há 50 anos atrás. E a pobre descabelada , agora com varias partes do corpo raladas , não conseguiu reconhecer que por de trás daqueles óculos , daquela boina e daquela velha barba branca , ainda existiam aquelas pobres promessas de amor , que tanto a engaram, jurando o tal amor eterno no calor daquele tempo antigo , e que ainda era tão presente nos sonhos , nos dias , nas noites , nas insônias e naqueles copos de vinhos baratos que Tereza usava para tentar dormir.

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