segunda-feira, 29 de julho de 2013

Meu escritor.

Nathália Ferreira,
Aniversários não são especiais, pra mim costumam ser datas tristes, cheias de lembranças, pensamentos profundos e uma lembrança da incessante contagem regressiva ao dia da inevitável morte. Mas, com as pessoas que eu amo profundamente isso é diferente; eu escrevo. Escrevo porque talvez seja a coisa mais honesta que eu tenha à oferecer - tudo o que eu tenho são palavras e delas é feita a parte que me cabe deste latifúndio.

Isso que se segue, eu guardo há quase 3 anos.

Te conheci uma garota tímida, com uma franja na testa, uma camiseta branca e uma camisa xadrez azul. No auge dos seus 16 anos, a única coisa que não mudou foi o seu olhar quando encara o meu. Eu te vi crescer enquanto eu mesmo crescia sem perceber.

Quantas horas ao telefone, quantos filmes, quantas conversas sobre livros, quantos passeios no parque, quantos narizes quebrados e quantas brigas são necessárias para se perceber quando alguém se torna parte necessária do seu ser? Você superou todos eles e hoje é a parte mais necessária do meu ser. Além de necessária, insubstituível.

Hoje, ao completar 19 anos, eu sei o quanto você lutou e amadureceu para estar onde está e sei que a maioria dessas coisas nós superamos juntos. E se antes eu tinha duas mulheres à que eu podia chamar de "mulheres da minha vida", desde aquele dia que encontrei a garota vestida igual à mim, eu sei que tenho três. 

Eu não quero gastar aqui as palavras já que estão todas na sua carta de aniversário que neste domingo você dormiu ao lado e nem sabia. Está guardada para amanhã.
Parabéns, meu amor.
 Gustavo Sasso
http://sanidez.wordpress.com/

domingo, 28 de julho de 2013

Tchau, 18.

Um ano. Exatamente um ano se passou.
Não estava nem um pouco fez em completar 18 anos. É serio, não era igual as outras pessoas que eram loucas para completar os dezoito. Na verdade, eu gostava dos 15 anos, apesar de não ter comemorado aquela data. Minha mãe ficou doente, minha escola fechou por causa da gripe H1N1, chovia muito. Então, praticamente ninguém lembrou da tal data, mas não importava, eu estava feliz e isso bastava. Enfim, eu era feliz com meu 15 anos. Mas como nada é perfeito, os anos passam. E então chegou os 18 anos. Festas, parabéns, presente, roupa nova e todo esses caraio. Beleza, tinha que levantar a cabeça, colocar os pés no chão e aceitar que finalmente tinha entrado na maior idade. Estava estudando para entrar no vestibular. O bom do cursinho, foi que além de aprender um pouco mais, conheci os meus melhores amigos que me fizeram também reencontrar antigos amigos. Mudei de cidade novamente, depois de 10 casas, finalmente tinha voltado para a primeira casa que mudei. A antiga casa, cheia de problemas, cheia de lembranças e cheia de futuro. Voltei a falar com meu pai depois de quatro anos, é pois é, quatro anos. Deixei um pouco o orgulho de mulher e deixei o sentimento de filha falar mais alto. Me reaproximei da minha mãe mais que nunca, pois, tive que ser forte no momento em que ela mais precisou e ainda bem que consegui, pois sei que serei forte na vida. Ajudei meus avós, e percebi que a sabedoria deles sempre me ajudaram em tudo. Me encante com o sorriso e a inocência do meu primo. E finalmente com 18 anos, deu uma chance para amar de novo. Dei uma chance que jamais me arrependerei, e se for para dar errado que seja com ele, mas se for pra dar certo eu continuarei lutando e tentarei fazer dar certo aquele tal de "felizes pra sempre", mesmo que nem sempre seja um mar de rosas. Mas eu continuarei tentando. Aliás, essa coisa de tentar é comigo mesmo. Pois, tentei duas vezes passar na faculdade, e finalmente na segunda tentativa eu consegui. Um sonho da minha lista riscado. Eu, com 18 anos, na faculdade, estudando direito. Tem coisa mais perfeita? Alcançar um sonho, é uma das melhores sensações do mundo. E melhor ainda é quando você tem as pessoas certas do lado. Então, meu dezoito anos, me desculpe pelo preconceito que eu tive com você. Mas você foi do caralho! Muito obrigada pela essa experiência. Agora, eu me despeço de você, com todas as dúvidas de como será minha vida daqui pra frente, por eu sei que agora a porra ficou séria. Mas, eu aprendi a levantar a cabeça, secar as lágrimas, lavar o joelho ralado pela queda no chão e seguir com o coração tranquilo, com a fé em Deus, com a confiança em mim e como sempre, com a alegria que uma garota de 15 anos carrega em seu olhar e em seu coração. Então, Tchau 18. Nós vemos algum dia por ai.
Obrigada pelas chances que você me proporcionou.
E obrigada, por me tornar forte para enfrentar todos os outros anos que vem por ai.
Sentirei saudades.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Tereza 1952 - parte 2

Foi quando encontrou as cartas amassadas, guardadas em uma caixa atrás do guarda-roupa. Todas elas com marcas de lágrimas e com juras de amor. Hoje, seu coração não sentia vontade de expor nenhum sentimento, sua mente focada em sua carreira e a insônia descrevia a dor que lembrava aquele maldito olhar.
Já havia passado 10 anos, desde que Tereza deixou Vicente. Muitos não entenderam o porquê daquele termino, mas Tereza não encontrava mais o encanto e as surpresas do dia a dia nos olhares dele, nem a sensação que sentia quando o tinha em seus braços. Parecia mais uma obrigação do que o próprio sentimento.
Vicente, já não dava explicações quando chegava tarde, bêbado. Não a procura de manhã como antes. Apenas seguia a rotina, como um robô e superficial.
Tereza sentia os perfumes adocicados de outras mulheres nas roupas deixadas no canto do banheiro, logo após o banho de Vicente.
Ela criada apenas para servir o marido, enquanto seus sonhos iam além daquela cozinha de azulejos azuis. “Eu nem gosto de azul” - pensava enquanto colocava a comida na mesa de jantar. Eles nem eram casados, apenas moravam juntos. Sua família a abandonará pelo fato dela não ter entrado de véu e grinalda na igreja de São Cristóvão, onde toda sua família havia casado. “Mas eu nunca quis casar, eu não vou”- resmungava enquanto abria uma antiga garrafa de vinho tinto.
Vicente não apareceu naquela noite, nem para o jantar, nem para o clássico jogo de futebol.
Tereza abriu todas as portas de seu guarda-roupa, jogou todos seus pertences dentro de uma mala velha e saiu pela porta da rua. “Nós não temos filhos, eu não preciso suportar tudo isso. Preciso seguir meu sonho, preciso fugir dessa maldita casa, dessa maldita vila onde eu tenho que fingir que sou uma daquelas famílias americanas daqueles comerciais de margarina. Como eu O-D-E-I-O essa vida, como eu odeio essa cara por quem me apaixonei loucamente, como eu odeio ser tão burraa.”. Com as malas na mão, o vento gelado da madrugada em seu rosto e as lágrimas quentes descia sem parar. Aquelas promessas, de felicidade eterna, que Vicente tanto a prometeu. Ela que largou tudo por acreditar no que realmente sentia aquele amor que os dois juravam e viviam tudo indo embora. “Mas ele parecia tão verdadeiro e sincero”-pensava, enquanto limpava as lágrimas e esperava na fila para comprar uma passagem para a cidade de sua avó.

Embarcou no ônibus, ás 03h55min da madrugada. Sentou do lado de um rapaz, que a encarava toda vez que sentia as lágrimas pelo seu rosto. O ônibus velho, com cadeiras rasgadas, vidros emperrados trazia um ar de aventura para Tereza, que com apenas 23 anos já estava cansada daquela vida de “casada”, estava cansada daquele “marido” que apenas a cumprimentava com um beijo no rosto e ficava encarando o jornal enquanto fazia as refeições.
Quando Tereza abriu os olhos, já havia amanhecido. Mas muitos ainda dormiam no ônibus, inclusive o jovem rapaz do seu lado. Tereza encarou o jovem por alguns minutos, enquanto ele dormia profundamente de um jeito engraçado, e com um pequeno rouco que saia da sua boca rachada e aberta. De um jeito estranho, ele lembrava Vicente, a gana em sua pela jovem e brilhante, o cabelo castanho claro bagunçado, os olhos azuis vibrantes, que Tereza encarou por alguns segundos enquanto subia para o ônibus e coloca sua mala em cima de sua cadeira, em um compartimento pequeno e úmido. Sentiu-se culpada pela sua atitude, sentiu-se completamente triste por ter fugido daquele jeito sem ao menos tentar mais uma vez, sem ao menos dar uma chance para Vicente explicar o que estava acontecendo. E o remorso crescia em seu peito de um jeito, que parecia que ele iria sair pela sua boca e rasgar todos aqueles 6 anos de história de amor que viveu com seu namorado de olhos azuis. E aquele rapaz dormindo a seu lado, no velho ônibus Cometa, fez com que Tereza parasse no terminal da cidade em que o motorista acabava de parar, retomar as energias para continuar a viagem que duraria mais 4 horas.
Tereza saiu correndo para a bilheteria do terminal, com as malas na mão, com o cabelo bagunçado e seus olhos inchados. Pegou a passagem, do próximo ônibus para voltar para sua cidade, para voltar para sua casa, para voltar para Vicente. A paixão de reencontra-lo, de dar mais uma chance para viver um grande amor, aumentavam cada vez mais em Tereza, ainda mais quando viu a rodoviária de sua cidade se aproximar.
Eram 13h30min quando desceu do ônibus. Saiu correndo para a velha Rua 15 de novembro, o coração acelerado, as maças de seu rosto vermelhas, não estava acostumada a correr tanto e suas malas vermelhas começaram a pesar em suas delicadas mãos. Sua casa simples, com um pequeno jardim de rosas e com alguns “temperos”, a varanda com cadeiras brancas e a velha rede azul que sua vó tinha costurado para trazer sorte para ela e Vicente. Sua vida toda ali dentro esperando para ser revivida.
Abriu a porta com um sorriso no rosto e o suor em sua testa. O silencio nunca pareceu gritar tanto naquele momento, o eco de seus passos pela casa parecia ensurdecedor. A comida na mesa de jantar intocada, a comida ainda em cima do fogão, o vinho que Tereza tomou para ter coragem de sair de casa, ainda em cima da pia e Vicente deveria estar jogado em alguma cama de algum lugar da cidade.

Tereza pegou suas malas vermelhas, recuperou o fôlego e saiu pela porta da sala. Deixando tudo escancarado, exatamente como seu coração estava naquele momento. 

Tereza 2006

Tereza pegou o mesmo ônibus ás 7h da manhã , para levar o neto na escola , um menino gordinho uniformizado e com apenas 5 anos. Matheus , ia contando sobre seus sonhos daquela noite, e a avó toda desarrumada, pois , de novo, tinha esquecido de colocar o relógio para desperta, era já a quarta vez que aquilo acontecia em uma semana. Tereza estava apenas com o rosto lavado e a roupa era a mesma da noite passada "Nem parece pijama" pensou enquanto levantava assustada e correndo para o quarto do neto.
O menino continuava contando seus sonhos , e ela fingia que escutava apenas balançado a cabeça quando ele perguntava alguma coisa. Estava preocupada com aquele maldito trânsito , que estava mais parado do que a vida dela. Já estavam descendo , quando Matheus perguntava o porque que não levará lanche esses últimos dias. Tereza correndo contra o tempo , puxando o neto pelo braço , chegou na escola quando já estavam fechando o portão . O porteiro ,acostumado com aqueles atrasos , esperou o menino entrar e fechou o portão.
Ela ficou ali parada , com a respiração ofegante , com seus chinelos velhos e cabelos bagunçados, "Não pude nem dar um beijo de despedida" , pensou enquanto dava o sinal para o ônibus.
Parecia que todos á olhavam , enquanto sentava no banco preferencial. " Não sei porque ficam observando uma velha descabelada", resmungava mentalmente , encarando cada olhar.
Faltavam dois pontos para sua parada , quando Tereza apertou aquele botão laranja para descer. " Já que meu médico pediu que eu caminhar um pouco , acho que essa distância ajudará meu pobre coração", pensava enquanto descia os degraus do ônibus. Mas o motorista estava com pressa, tinha que terminar seu trabalho e estacionar no pátio ás 8:30 e já eram 8:20 da manhã . Acelerou , antes que Tereza estivesse totalmente com os pés na calçada.
Tereza caiu de joelhos e  ralou todas as partes descobertas de seu corpo "Por isso eu não faço caminhada" , pensou quando viu seu sangue no chão. Uma mão velha segurou sua cintura e a ajudou ficar de pé.
Era um senhor , talvez tivesse 77 anos , usava uma boina xadrez verde, um óculos com formato antigo ,tinha catarata aguçadas e também estava de chinelo. Mas o que o velho não pode perceber , é que aquela senhora caída aos seus pés , ainda carregava os mesmos olhares apaixonados que o encarava há 50 anos atrás. E a pobre descabelada , agora com varias partes do corpo raladas , não conseguiu reconhecer que por de trás daqueles óculos , daquela boina e daquela velha barba branca , ainda existiam aquelas pobres promessas de amor , que tanto a engaram, jurando o tal amor eterno no calor daquele tempo antigo , e que ainda era tão presente nos sonhos , nos dias , nas noites , nas insônias e naqueles copos de vinhos baratos que Tereza usava para tentar dormir.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Studio 730

1.

Então decidi responder aquele convite que antes parecia tão assuntador. Relei a mensagem no meu celular que dizia "Vem aqui, só um pouquinho, por favor".
Disquei o número, que sempre esteve decorado em minha memória,e aquela voz rouca e entusiasmada atendeu. -Você vem?
-Vou, mas acho que estou perdida.

-Como?A cidade é tão pequena e não tem como errar o caminho, vai seguindo minhas informações e já já você vai estar aqui.

 "Me mudei pra cá a pouco tempo e já estou indo atrás dele de novo, que merda! Mas ele é a única pessoa confiável que eu conheço aqui perto, já que aquele idiota me deu o pé, preciso de gente inteligente pra conversar e ele sempre me fez rir, então é só por isso que eu estou indo lá. Entendeu coração? Nada de aprontar comigo... vamos lá, e se acalme menina!E ele namora agora também, então ta tudo bem"
O coração acelerado, os carros passando rápido na avenida do lado,os quarterões passando, a casa chegando mais perto.Subiu as escadas, entrou pela porta de ferro e se deparou que dali pra frente sua vida não seria mais a mesma.

-Ae, você conseguiu, não falei que era fácil chegar aqui?

-Haha, verdade.

E ele veio de um modo tímido me abraçar,com um sorriso no rosto e um certo nevrosismo.
"Droga, ele continua bonito, e agora eu abraço também?Eu cumprimento? Droga!"

-Então, você se mudou pra cá.

-É, na semana passada.

-Então vai poder vim me visitar mais vezes ?

-Talvez.

-Vem, vou acender um cigarro.

E seguiram para a varanda.

-Nossa é legal aqui.

-Eu sei, você era pra ter vindo aqui há muito tempo atrás, não veio porque não quis.

-É, eu tinha uma imagem totalmente diferente daqui.

E os olhares envergonhados, não duravam dois minutos se encarando.
E eu, nunca falei tão rápido em toda minha vida, disse sobre o outro cara, sobre o curso que estava fazendo e o quando estava odiando ter mudado de cidade.
E ele encarava cada palavra que eu dizia, como se fosse a coisa mais importante de sua vida. Ele sempre prestava atenção no que eu dizia, mas dessa vez era diferente, nós estávamos diferentes e felizes de estarmos ali.

-E quem diria, você namorando sério.

-Pois é.

-Você a ama?

(Silêncio)

O celular dele tocou em cima do balcão e quebrou todo o gelo que estava  naquela varanda cheia de bitucas de cigarro.
"Acho que seria estranho eu limpar essa sujeira toda"
Ele correu pra atender.
"Ah, você vem que horas? Só tenho uma hora de almoço, então não demorava ,porra. Te encontro daqui a pouco então"

Desligou o celular, e me chamou pra sentar naquele sofá super vermelho, que por algum motivo me lembrou uma reportagem que eu vi no Linha Direta quando era pequena que falava sobre a Casa da Luz Vermelha,e eu  ri sozinha nos meus desvaneio .

Sentei e fiquei observando ele mexer em um computador que ficava dentro desse balcão, e ele riu sozinho e seguiu pra sentar ao meu lado.Na verdade ele não sentou, praticamente se jogou em cima daquele sofá da Casa da Luz Vermelha. E eu fiquei imóvel, não sabia como lidar com aquela situação, pois a última vez que o tinha encontrado, não queria nem ao menos encarar aqueles malditos olhos castanhos, então virei as costas e fui embora.Mas dessa vez era diferente, senti a respiração dele em cima de mim, senti que de alguma forma ele estava mais nervoso e ansioso que eu.

-E sua namorada, como conheceu?

-Ah, então, uma amiga nos apresentou e tal.

-Entendi.

-Mas não estamos muito bem, sabe.

-Ah, sério? Por que?

-Ela não é você.

E meu coração nunca bateu tão rápido, senti meu rosto ficando vermelho e não consegui dizer nenhuma palavra.

-Vem, vamos almoçar.

-Ah, não dá, eu tenho que ir embora.

-Da sim, é uma horinha, vai ser rápido e quero que você conheça alguém.

-Tá bom.

Levantamos , e seguimos para a estação de ônibus que ficava há uns vinte minutos de distancia daquela casa amarela.


2.


-Então, vou te apresentar a uma amiga, que conhece nossa história .

-Você conta sobre a gente ?

-É claro, é uma história boa de ser lembrada.

-Depende, tirando as coisas ruins, ela é boa mesmo.

-Não, se não tivesse a parte ruim não teria graça nenhuma.

E nos olhamos mais uma vez, de uma jeito meio envergonhado,meio constrangidos mais felizes por aquele momento.

-Vamos logo, tenho só uma hora de almoço e você vai querer ficar passeando no shopping como sempre.

-Ah, eu não tenho culpa se você trabalha.

Disse ele, a uma menina que estava encostada na parede, esperando há uns minutos.

-Olha, você, até que fim te conheci.
A menina me disse cumprimentando com um abraço apertado, ela era mais baixa que eu , então tive que me encurvar um pouco para acompanha-la naquele abraço.
Eu não disse nada, apenas os acompanhei naqueles passos rápidos e descontraídos

Almoçamos alguns hambúrgueres, caminhamos pelo shopping, olhamos algumas vitrines.

-Nossa, eu tenho que ir embora, já passou uma hora e meia, vamos agora.

E fomos em direção a casa amarela. Mas não os acompanhei nessa agora, precisa ir para o curso que odiava, encarar aquelas pessoas que me ignoravam ou que só falavam comigo por algum interesse.

-Eu vou ter que ir.

-Já? -disse a menina

-Pois é.

-Então ta bom. Depois nós falamos.

Me despedi de todos com um simples beijo no rosto, atravessei a rua e segui em direção a calçada movimentada.
"Caramba, eu consegui encontrar com ele tranquilamente, e ainda conheci uma amiga dele.Bom, isso é diferente, mas acho que poderemos ser amigos, tentar desse jeito, talvez só desse jeito de certo.

3.


Uma semana se passou, desde aquele reencontro do passado. Mas, continuamos conversando. Conversamos sobre tudo, até dei conselho sobre a atual namorada, sobre o trabalho e sobre seu futuro, sempre tive essa intimidade com ele, de contar tudo, critica-lo e mesmo assim continuas formalmente sobre tudo, exatamente tudo.
Resolvemos assistir um filme, ele na casa dele e eu na minha, mas com conversas de sms durantes algumas cenas.
O filme era "O fabuloso destino de Amélie Poulain", assistimos até o fim , uma certa emoção invadiu meu coração, e então ele me disse que iria seguir o que o vizinho e pintor disse para Amélia, que era exatamente o seguinte : "Então, minha querida Amélie, você não tem ossos de vidro. Pode suportar os baques da vida. Se deixar passar essa chance, então, com o tempo, seu coração ficará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto. então, vá em frente, pelo amor de Deus."

Alguns dias se passaram , e não nós falamos durante esse tempo.
Um dia, voltando pra casa, depois do curso maldito, descendo a rua da minha casa, recebo algumas mensagens. Ao le-las ,fiquei parada não conseguia me movimentar, os carros buzinando para eu sair do meio rua, mas nem se quer me movimentar para ir para casa , eu conseguia.

"Eu preciso falar com você. Urgente".
"Eu fiz uma coisa, e foi por VOCÊ"
"Por favor, fica comigo dessa vez"
"Me liga!"

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Um pouco de indelicadeza

-Mas que porra,você precisa ser tão grosso quando brigamos,precisa ficar dando exemplos que eu não quero saber .Eu não quero saber se você comeu aquele mina e que tirou fotos durante o sexo, foda-se vocês, eu só não suporto essa implicância sua de me magoar desse jeito.
Saiu batendo a porta do quarto, enquanto sentia o frio do piso subindo pelo seus pés descalços.

-Eu dou esses exemplos por que você me provoca.Você mentiu pra mim,caralho.
 Disse ele abrindo a escancarando a porta, com o corpo suado e com a samba canção vermelha.

-Eu não menti pra você, eu NUNCA menti pra você.

-Então por que você disse que tinha transado com aquele maldito aquele dia?

-Foi pra te provocar você não percebe, porra. Enquanto você estava lá me contando sobre suas noites de putaria com aquelas vadias, eu precisava de uma desculpa para não ir embora de novo.

-Ah, então você quis ir embora de novo?Você pede a verdade, e quando eu conto, você fica brava. Assim não dá.

-Não,eu não queria ir embora, mas você sempre conta os detalhes demais, você até contou as posições que fizeram , e não sei por qual motivo, isso doí. E não era pra doer, eu nem estava com você.Mas,mas,mas...
Ele acendeu um cigarro no meio da sala , e ela se perdia em seus pensamentos, já que certos detalhes não saiam de sua cabeça.

-Mas sabe, por um lado isso é bom

-O que? . Disse ela encarando ele fixamente nos olhos,enquanto os dela estavam cheio de lágrimas que não caiam.

-Você está chorando?

-Não,claro que não.

-Claro que está, você é chorona pra tudo,vem cá.

-Não, porra, eu odeio você, e odeio o jeito que fala quando está bravo, que merda você iá dizer?

-Idiota

-Eu vou embora.
Ela disse entrando no quarto e procurando suas roupas jogadas no chão.

-Para de ser chata,estamos conversando. Você mentiu e eu fui exagerado te contando os detalhes, agora temos que terminar com tudo isso, me escuta! Por um lado foi bom saber que você não fez nada com aquele babaca...

-Eu não sou desse tipo de menina que vai indo pro quarto com qualquer um.

-Eu estou falando , ME ESCUTA

-NÃO GRITA COMIGO

-Eu sei que você não é qualquer uma, por isso fui tirar satisfações aquele dia com ele,por que você não é qualquer uma

-Hm

-Ta brava ainda?Você mentiu e você fica brava?

-Sim, eu pelo menos não fiz nada , você que me contou aquelas histórias malditas com aquelas meninas

-Mas você me perguntou,porra.

-Mas eu não queria saber tudo,saber os detalhes

-Ta bom,ta bom,ta bom

-Enfim, me desculpa por ter falado que eu dormi com ele, sendo que eu não tinha dormido

-Tá vendo, você que mentiu e você que fica brava comigo , não te entendo.

-Eu já pedi desculpas

-Tá bom

-Tá bravo?

-Um pouco,mas daqui a pouco passa

-Por que você sempre me trata desse jeito quando fica bravo?

-É meu jeito, acostume-se

-Hm,é dificil


-Eu sei, eu estou tentando melhorar, mas eu só quero ser sincero com você e ser verdadeiro entende?

-Eu sei disso

-Então...

-Então o quê?

-Por que mentiu pra mim?

-Eu não sei, ciumes talvez , mas já pedi desculpa

-Ta bom

-Idiota

-Tonta

-Me desculpa?

-Desculpo

-E eu também te desculpo por ser grosso,ignorante,chato e insuportável comigo

-Ah, mas no fundo você sabe que eu te amo, né?

-Sei, e eu também te amo

-Sua bicha

-Culpa sua

-Vem cá...

Uma espera boa...

10.

Os outros casais saindo pra jantar ou marcando aquele filminho básico no fim da tarde só para ter a companhia desejada do lado.As festas em família, a apresentação do rotulo "namorada" e "namorado" agradando os avós ,os tios e aquela tia que vive longe e sempre perguntava o por quê está solteira, todos sorrindo para a foto que está sendo tirada na mesa do almoço de domingo.A viajem de ano novo para a praia lotada e o novo casal juntos aproveitando cada momento.
Engraçado, nunca tive esses clichês, que todos esperam quando começam a namorar, e talvez seja esse um dos motivos de eu não querer desgrudar dele cada minuto.
Vivemos um tipo de "guerra", um tipo Romeu e Julieta, aquela coisa da família não aceitar, das criticas e brigas , MI MIMIS de sempre.
Mas, não vou mentir que não me cobro por não poder dar um relacionamento descente, pelo menos com aqueles almoços bobos de domingo, com discussões na mesa e com o final com todos na sala assistindo dança dos famosos.
Mas pra falar a verdade, minha família nunca foi tão grande nem tradicional para poder ter esses mimimis de família , já me acostumei na verdade.Filha de pais separados, que mora com os avós ,com a mãe e com dois cachorros salsichas.Nunca tivemos essa coisa de almoçar todos na mesa, ou do jantar pronto na hora.Sim, temos o natal, aniversário, dia das mães, dia dos pais e ano novo , com toda a formalidade que se espera de uma família,mas nada muito grande.
Agora, imagina , toda essa "tranquilidade" e não aceitarem o namoro da unica menina que existe na família , cômico, não?
Mas, ainda me sinto culpada, por não poder fornecer todo aquele clima de namoro, os filmes de tarde, a noite de sono em conchinha, a tal apresentação, exatamente tudo, exatamente, nada!.
Embora toda essa dificuldade, todos esses motivos para ir embora de vez, a necessidade de tentar dar certo se tornou maior que tudo.
Sabe, aquela coisa de cumprir com os planejamentos, de ver como será a primeira casa, os moveis, a espera do futuro .Isso tudo, pelo menos pra mim, diminui a preocupação de não ter a vida clichê de um casal , mesmo as vezes precisando um pouco desses momentos.
Mas, aquela voz rouca por causa do cigarro,quando me diz que ainda temos todo o tempo do mundo para vivermos tudo isso, me dá uma certa tranquilidade de apenas esperar pelo nosso momento .