quarta-feira, 3 de julho de 2013

Studio 730

1.

Então decidi responder aquele convite que antes parecia tão assuntador. Relei a mensagem no meu celular que dizia "Vem aqui, só um pouquinho, por favor".
Disquei o número, que sempre esteve decorado em minha memória,e aquela voz rouca e entusiasmada atendeu. -Você vem?
-Vou, mas acho que estou perdida.

-Como?A cidade é tão pequena e não tem como errar o caminho, vai seguindo minhas informações e já já você vai estar aqui.

 "Me mudei pra cá a pouco tempo e já estou indo atrás dele de novo, que merda! Mas ele é a única pessoa confiável que eu conheço aqui perto, já que aquele idiota me deu o pé, preciso de gente inteligente pra conversar e ele sempre me fez rir, então é só por isso que eu estou indo lá. Entendeu coração? Nada de aprontar comigo... vamos lá, e se acalme menina!E ele namora agora também, então ta tudo bem"
O coração acelerado, os carros passando rápido na avenida do lado,os quarterões passando, a casa chegando mais perto.Subiu as escadas, entrou pela porta de ferro e se deparou que dali pra frente sua vida não seria mais a mesma.

-Ae, você conseguiu, não falei que era fácil chegar aqui?

-Haha, verdade.

E ele veio de um modo tímido me abraçar,com um sorriso no rosto e um certo nevrosismo.
"Droga, ele continua bonito, e agora eu abraço também?Eu cumprimento? Droga!"

-Então, você se mudou pra cá.

-É, na semana passada.

-Então vai poder vim me visitar mais vezes ?

-Talvez.

-Vem, vou acender um cigarro.

E seguiram para a varanda.

-Nossa é legal aqui.

-Eu sei, você era pra ter vindo aqui há muito tempo atrás, não veio porque não quis.

-É, eu tinha uma imagem totalmente diferente daqui.

E os olhares envergonhados, não duravam dois minutos se encarando.
E eu, nunca falei tão rápido em toda minha vida, disse sobre o outro cara, sobre o curso que estava fazendo e o quando estava odiando ter mudado de cidade.
E ele encarava cada palavra que eu dizia, como se fosse a coisa mais importante de sua vida. Ele sempre prestava atenção no que eu dizia, mas dessa vez era diferente, nós estávamos diferentes e felizes de estarmos ali.

-E quem diria, você namorando sério.

-Pois é.

-Você a ama?

(Silêncio)

O celular dele tocou em cima do balcão e quebrou todo o gelo que estava  naquela varanda cheia de bitucas de cigarro.
"Acho que seria estranho eu limpar essa sujeira toda"
Ele correu pra atender.
"Ah, você vem que horas? Só tenho uma hora de almoço, então não demorava ,porra. Te encontro daqui a pouco então"

Desligou o celular, e me chamou pra sentar naquele sofá super vermelho, que por algum motivo me lembrou uma reportagem que eu vi no Linha Direta quando era pequena que falava sobre a Casa da Luz Vermelha,e eu  ri sozinha nos meus desvaneio .

Sentei e fiquei observando ele mexer em um computador que ficava dentro desse balcão, e ele riu sozinho e seguiu pra sentar ao meu lado.Na verdade ele não sentou, praticamente se jogou em cima daquele sofá da Casa da Luz Vermelha. E eu fiquei imóvel, não sabia como lidar com aquela situação, pois a última vez que o tinha encontrado, não queria nem ao menos encarar aqueles malditos olhos castanhos, então virei as costas e fui embora.Mas dessa vez era diferente, senti a respiração dele em cima de mim, senti que de alguma forma ele estava mais nervoso e ansioso que eu.

-E sua namorada, como conheceu?

-Ah, então, uma amiga nos apresentou e tal.

-Entendi.

-Mas não estamos muito bem, sabe.

-Ah, sério? Por que?

-Ela não é você.

E meu coração nunca bateu tão rápido, senti meu rosto ficando vermelho e não consegui dizer nenhuma palavra.

-Vem, vamos almoçar.

-Ah, não dá, eu tenho que ir embora.

-Da sim, é uma horinha, vai ser rápido e quero que você conheça alguém.

-Tá bom.

Levantamos , e seguimos para a estação de ônibus que ficava há uns vinte minutos de distancia daquela casa amarela.


2.


-Então, vou te apresentar a uma amiga, que conhece nossa história .

-Você conta sobre a gente ?

-É claro, é uma história boa de ser lembrada.

-Depende, tirando as coisas ruins, ela é boa mesmo.

-Não, se não tivesse a parte ruim não teria graça nenhuma.

E nos olhamos mais uma vez, de uma jeito meio envergonhado,meio constrangidos mais felizes por aquele momento.

-Vamos logo, tenho só uma hora de almoço e você vai querer ficar passeando no shopping como sempre.

-Ah, eu não tenho culpa se você trabalha.

Disse ele, a uma menina que estava encostada na parede, esperando há uns minutos.

-Olha, você, até que fim te conheci.
A menina me disse cumprimentando com um abraço apertado, ela era mais baixa que eu , então tive que me encurvar um pouco para acompanha-la naquele abraço.
Eu não disse nada, apenas os acompanhei naqueles passos rápidos e descontraídos

Almoçamos alguns hambúrgueres, caminhamos pelo shopping, olhamos algumas vitrines.

-Nossa, eu tenho que ir embora, já passou uma hora e meia, vamos agora.

E fomos em direção a casa amarela. Mas não os acompanhei nessa agora, precisa ir para o curso que odiava, encarar aquelas pessoas que me ignoravam ou que só falavam comigo por algum interesse.

-Eu vou ter que ir.

-Já? -disse a menina

-Pois é.

-Então ta bom. Depois nós falamos.

Me despedi de todos com um simples beijo no rosto, atravessei a rua e segui em direção a calçada movimentada.
"Caramba, eu consegui encontrar com ele tranquilamente, e ainda conheci uma amiga dele.Bom, isso é diferente, mas acho que poderemos ser amigos, tentar desse jeito, talvez só desse jeito de certo.

3.


Uma semana se passou, desde aquele reencontro do passado. Mas, continuamos conversando. Conversamos sobre tudo, até dei conselho sobre a atual namorada, sobre o trabalho e sobre seu futuro, sempre tive essa intimidade com ele, de contar tudo, critica-lo e mesmo assim continuas formalmente sobre tudo, exatamente tudo.
Resolvemos assistir um filme, ele na casa dele e eu na minha, mas com conversas de sms durantes algumas cenas.
O filme era "O fabuloso destino de Amélie Poulain", assistimos até o fim , uma certa emoção invadiu meu coração, e então ele me disse que iria seguir o que o vizinho e pintor disse para Amélia, que era exatamente o seguinte : "Então, minha querida Amélie, você não tem ossos de vidro. Pode suportar os baques da vida. Se deixar passar essa chance, então, com o tempo, seu coração ficará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto. então, vá em frente, pelo amor de Deus."

Alguns dias se passaram , e não nós falamos durante esse tempo.
Um dia, voltando pra casa, depois do curso maldito, descendo a rua da minha casa, recebo algumas mensagens. Ao le-las ,fiquei parada não conseguia me movimentar, os carros buzinando para eu sair do meio rua, mas nem se quer me movimentar para ir para casa , eu conseguia.

"Eu preciso falar com você. Urgente".
"Eu fiz uma coisa, e foi por VOCÊ"
"Por favor, fica comigo dessa vez"
"Me liga!"

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